Expansão dificulta negociar a dívida De Buenos Aires

O ministro de Finanças da Alemanha, Hans Eichel, fez ontem uma forte pressão para que a Argentina melhore sua oferta aos credores da dívida em default. O ministro afirmou que o país deve "refletir se não pode dar um passo a mais em sua oferta", e que o governo tem de abandonar a posição sustentada até agora, de oferecer 25% do valor nominal dos títulos que entraram em default em dezembro de 2001.

Eichel, que se apresentou como um "mensageiro do G-7", esteve no país para reuniões com o presidente Néstor Kirchner e a equipe econômica. Apesar de ter mantido o tom cordial durante todas as aparições públicas, descreveu alguns de seus encontros como "difíceis".

Anteontem, durante jantar com empresários, afirmou ser cada vez mais difícil sustentar, junto à opinião pública de seu país, que a Argentina não tem como pagar mais aos seus credores apesar de o país estar em forte recuperação econômica. Estimase que pequenos investidores alemães tenham aproximadamente 4% da dívida argentina em default, cujo valor nominal é de cerca de US$ 90 bilhões.

A declaração de Eichel mostra que o crescimento vigoroso do país é,paradoxalmente, uma faca de dois gumes para o governo.


"O governo está tentando fazer o impossível, que é tapar o sol com a mão. O sol aqui é que há uma recuperação muito forte da atividade econômica que gera uma capacidade de pagamento que permite melhorar a proposta",afirmou o economista José Luis Espert.

Um dos sinais de que a Argentina não quer mostrar que está ampliando sua capacidade de pagamento é a manutenção da previsão oficial de crescimento de 4% para este ano, apesar da visão unânime entre analistas privados de que a expansão pode passar de 6%. Há duas semanas, o secretário de nanças,Guillermo Nielsen, chegou a fazer uma previsão mais otimista, mas foi imediatamente desautorizado pelo ministro Roberto Lavagna.


Segundo Espert, em vez de destinar os recursos provenientes da melhora na arrecadação para pagar a dívida, a opção tem sido aumentar o gasto público.

"A situação do governo é complicada porque, se mantiver essa proposta de renegociação, vai haver uma ruptura com o Fundo", prevê.

No próximo dia 9 de março, a Argentina tem de pagar uma dívida de US$3,1 bilhões ao FMI. O presidente Kirchner já disse várias vezes que não fará o desembolso se não tiver garantia de que a instituição aprovará a segunda revisão do acordo com o país.

No mês passado, o diretório do FMI atrasou por vários dias a análise do caso argentino, e a primeira revisão das metas só foi aprovada graças ao apoio dos EUA. Japão, Reino Unido e Itália, que são membros do G-7 (grupo dos países mais ricos do mundo), se abstiveram.

No último dia 9, o G-7 emitiu comunicado em que pediu que a Argentina demonstre "boa-vontade" na negociação com os credores. Desde então, o país emitiu gestos considerados positivos pelo FMI, como a autorização para o reajuste das tarifas de gás e eletricidade e a indicação dos bancos que coordenarão a reestruturação da dívida em default. Questionado sobre os gestos do país, Eichel disse ontem que eles são positivos, mas ainda é preciso avançar "um pouco mais".

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José Luis Espert

Doctor en Economía

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