Cavallo tenta cartada decisiva para salvar Argentina

A Argentina tem pela frente meses difíceis, que dependerao do sucesso das novas medidas anunciadas pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo e, sobretudo, da realizacao de uma megatroca de títulos da dívida pública, única saída para afastar, de vez, o perigo de default (calote) e seus reflexos sobre a economia brasileira, como a alta do dólar.

– O Governo precisa de US$ 17 bilhoes para cobrir as necessidades de financiamento de maio até dezembro. Se Cavallo nao obtiver apoio para realizar a troca, estaremos a beira do default- disse ao GLOBO o economista José Luis Espert, diretor da empresa de consultoria privada Espert e Associados.

Segundo ele, os pròximos dias serao fundamentais para saber se a equipe de Cavallo terá respaldo para aliviar a pressao da dívida de curto prazo e recuperar a confianca dos investidores.

A estratégia do governo é simples: resgatar títulos que vencem entre 2001 e 2005 e trocá – los por papèis com vencimento em dez ou até 20 anos. A grande incògnita è saber a taxa que o mercado cobrará para participar da operacao.

A expectativa do ministro, e de todo o governo, é que amanha o mercado de um claro sinal de apoio á Argentina. Se a taxa de risco do país continuar caindo, Cavallo poderá avancar no acordo como os bancos. Se, pelo contrário, o mercado virar as costas para o paìs, nem os superpoderes do ministro serao suficientes para dobrar a resistencia do mercado financeiro.

Na pròxima quarta-feira deverá ser divulgado o resultado da arrecadacao de abril, que, segundo analistas, registrará queda entre 5% e 6%, em comparacao com o mesmo período do ano passado. Mesmo com a implementacao do novo Imposto sobre Movimentacoes Financeiras (a CPMF argentina), o governo parece ñao ter conseguido um aumento significativo da arrecadacao.

Informacoes extra-oficiais indicam que a novo imposto arrecadou entre US$ 13 milhoes e US$ 14 milhoes por dia. As dificuldades iniciais de aplicacao e alguns feriados teriam impedido uma melhora expressiva da cobranca de impostos, apòs queda de 12.9% em marco.

A falta de ingressos, combinada com gastos excessivos, levou Cavallo a lancar, na última sexta-feira, um novo pacote de medidas, que buscará injetar recursos no Tesouro e recuperar o equilíbrio fiscal. Alem de um novo arrocho, de US$ 900 milhoes, o superministro argentino aumentou impostos e eliminou isencoes tributárias. Sem o pacote, o país corria o risco de fechar o ano com déficit fiscal superior a US$ 10 bilhoes, muito acima da meta fixada pelo FMI, de US$ 6,5 bilhoes.

Mesmo que comece a colocar as contas públicas em dia, Cavallo precisar obter finaciamento para cobrir a relagem da dívida. Com uma taxa de risco de 10% (mil pontos bàsicos sobre a paga pelo Tesouro americano), fica difícil negociar um acordo como os bancos locais, para trocar títulos de curto prazo por papèis de longo prazo, e conseguir alongar o perfil da dívida.

A Argentina perdeu espaco nos mercados internacionais e os bancos estao atolados de títulos da dívida pública. Ao mesmo tempo, o país nao tem condicoes de pagar a dívida e deve encarar, como puder, uma reestructuracao- explicou Espert.

Segundo informacaoes do vice-ministro da Economia, Daniel Marx, o governo recebeu nove propostas de bancos internacionais, que se ofeceram para coordenar a operacao de troca de títulos, que alcancaria cerca de US$ 20 bilhoes.
Um dos bancos é o CS Firs Boston, cujo presidente, David Mulford, esteve em Buenos Aires negociando com Cavallo.

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José Luis Espert

Doctor en Economía

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