A crise política e econômica da Argentina parece não ter fim. Como se não bastasse a disputa com os governadores do Partido lustícialista (PJ), da oposiçáo, por dívidas da União, ontem o presidente Fernando de la Rúa teve de desmentir sua renúncia, após uma enxurrada de rumores provocada por declarações do governador da provincia do Chaco, Angel Rozas.
Rozas é vicepresidente da Uniáo Cívica Radical (UCR), partido de De la Rúa.
– O presidente foi atropelado pelos acontecimentos – disse Rozas, em entrevista a uma rádio local, às 10 h. Isso bastou para dar início a uma série de boatos sobre De la Rúa, que estava em uma reunião de gabinete. Por volta do meio dia, o governo decidiu negar os boatos de renúncia que circulavam nos mercados:
– É uma loucura, uma mentira. Não faz o menor sentido – disse o porta-voz oficial Juan Pablo Baylac.
Tarde demais. Às 14h 30m, a Bolsa de Valores de Buenos Aires caía 3,48%, e fechou em baixa de 4,8%. A taxa de risco do país chegou a 10,79% (1.079 pontos-base acirna da paga pelo Tesouro americano), contra 10,62% da véspera. O Global 2008, título argentino mais negociado no exterior, caiu 1,7%. O outro título do país, o FRB, fechou em queda de 2,89%. A crise política também provocou nova alta do dólar no Brasil.
A moeda americana subiu 0,94% frente ao real, mesmo depois de o Banco Central ter feito uma intervenção no cambio.
Segundo analistas, os investidores estão cansados das turbulências da economia argentina e exigem um ajuste maior de gastos, para garantir o cumprimento das metas de déficit fiscal fixadas pelo FMI. Se o governo pagar a divida com as províncias, dizem os economistas, aumentará o déficit fiscal.
– A crise econômica leva à crise polítíca e o resultado é irnprevisível. O golpe final poderia ser uma desvalorização geral do peso ou até mesmo o default (calote) – disse o economista José Luis Espert.
Complicando mais a situação, os governadores peronistas não foram à reunião convocada por De la Rúa para discutir a questão da divida do governo com as provincias. Segundo os líderes do PJ, essa dívida chega a US$ 1,3 bilhão e inclui remessas atrasadas desde 1999. Ontem à noite o viceministro da Economia, Daniel Marx, se reuniu com os governadores para negociar.
Segundo informaçoes extra-oficiais, os governadores do Partido lusticialista (PJ) teriam exigido receber parte da arrecadação do Imposto sobre Movimentaçoes Financeiras (a CPMF argentina), de 0,6.%. Os peronistas teriam alegado que várias provincias estáo em situação dramática e precisam de ajuda imediata para pagar salários atrasados.
O ex-presidente Raúl Alfonsín, que é presidente da UCR, disse que não há a menor possibilidade de De la Rúa renunciar antes do fim de seu mandato, em dezembro de 2003.
No mercado financeiro, circularam rumores de que De La Rúa de fato pediria a renúncia. Os títulos da dívida externa da Argentina caíram Com força, o que acabou pressionando os papéis do Brasil e trazendo nervosismo para o mercado brasileiro.
O C-Bond, título brasileiro, chegou a operar ern alta, mas terminou o dia com perdas de 0,55%.
Contribuiu para o nervosismo entre os operadores o fato de o mercado americano não ter funcionado na tarde de ontem. As bolsas americanas fecharam em queda: o Dow caiu 0,21% e o Nasdaq, 0,37%. Sem a referência dos títulos da divida externa, que são negociados em Nova York, o pessimismo do mercado brasileiro se acentuou na parte da tarde.