Economistas argentinos consultados consideram muito difícil que
o governo brasileiro consiga interromper a trajetória de valorização do real mesmo
com a elevação da alíquota do IOF para 4% sobre os investimentos estrangeiros em
renda fixa. "A equipe econômica do Brasil não pode ignorar que este imposto é
irrelevante para brecar a entrada de capitais e a consequente apreciação do real",
opinou o analista José Luis Espert, da consultoria local Espert & Associados.
Para Espert, a elevação do IOF oculta outra intenção adicional do governo
brasileiro. "Debaixo da camuflagem de querer reduzir a entrada de divisas, o
governo quer elevar a arrecadação para baixar o importante déficit fiscal", afirmou.
Ele recordou que o déficit fiscal do Brasil piorou em agosto até chegar a 3,29% do
Produto Interno Bruto (PIB), o que equivale a R$ 76 bilhões (cerca de US$ 44,186
bilhões). "A deterioração das contas públicas foi de 0,09 ponto porcentual em
relação ao acumulado dos oito primeiros meses do ano passado", comparou.
Essa deterioração, continuou ele, se deveu ao aumento dos juros nominais da
dívida, que chegaram até agosto a R$ 123,8 bilhões (cerca de US$ 71,976 bilhões),
equivalentes a 5,36% do PIB. Espert lembrou ainda que a poupança do governo
antes do pagamento de juros também piorou em termos de porcentagem do PIB,
que passou de 2,14% para 2,07% nos oito primeiros meses de 2010. "Tudo isso é
ruim e preocupante, mais ainda quando se leva em conta que a economia do Brasil
está crescendo a taxas chinesas", concluiu.
O ex-presidente do Banco Hipotecário, Miguel Kiguel, da consultoria Econviews,
também duvida que o governo consiga deter a apreciação do real. "A experiência
mostra que este tipo de medida funciona no curto prazo porque os mercados
sempre encontram meios para contorná-la", considerou. "Não creio que a alta do
IOF ou outra medida possa reverter a tendência de supervalorização do real",
opinou.
Segundo avaliação de Kiguel, a cotação do câmbio vai estar onde tem que estar,
com ou sem IOF, porque os mercados são criativos. "O governo começa a colocar
exceções, mas o fortalecimento do real e o enfraquecimento do dólar são
inevitáveis", sentenciou.
Para o economista Pablo Rojo, da Rio Bravo Investimentos da Argentina, e também
ex-presidente do Banco Hipotecário, por enquanto, a situação é irreversível. "Brasil,
China, Índia e Rússia são as economias mais atraentes do mundo, especialmente
em um contexto de muitas dúvidas sobre o andamento das economias na Europa e
nos Estados Unidos. E nesse cenário esses países vão continuar atraindo
investimentos e será impossível impedir a entrada de divisas", detalhou. Rojo
afirmou ainda que o aumento do IOF demonstra a válida preocupação do governo
brasileiro com o assunto, mas o Brasil vai continuar atraindo a atenção dos