Os Bancos Centrais da China e da Argentina assinaram, nesta segunda-feira, um pré-acordo através do qual a autoridade monetária chinesa colocará 70 bilhões de iuanes (equivalentes a 37 bilhões de pesos ou US$ 10 bilhões) disponíveis para as operações comerciais argentinas com o país asiático.
Na prática, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, este crédito permitirá que o Banco Central da Argentina preserve suas reservas em dólares, ajude a estabilizar o preço da moeda americana – que está em alta – e garanta o pagamento das importações da China.
Este é o primeiro acordo do tipo que a China assina com um país da América Latina. Segundo especialistas e fontes do Banco Central, o país asiático já tinha assinado entendimento semelhante com outros países da Ásia.
O pré-acordo entre China e Argentina foi anunciado pelo governo chinês durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Medellín, na Colômbia.
A informação também foi divulgada por fontes do Banco Central argentino, que destacaram: "A partir da crise global e da volatilidade nos mercados, foram realizados, nos últimos meses, uma série de iniciativas bilaterais entre diferentes bancos centrais, como maneira de garantir o acesso à moeda internacional em caso de eventual falta de liquidez".
Entre os exemplos citados por assessores da autoridade monetária argentina estão acordos assinados entre bancos centrais de países desenvolvidos e o que foi registrado entre o Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) e o Banco Central do Brasil, em outubro do ano passado.
Reservas
Tecnicamente, as autoridades argentinas definiram o entendimento como um "swap" – (troca) de moedas -, já que os chineses também poderão ter acesso ao peso.
Mas analistas discordam. "Não é um swap, mas um crédito, já que a China coloca este dinheiro à disposição da Argentina", disse o economista Aldo Abram.
Abram compara o pré-acordo com China ao que já é feito entre Brasil e Argentina. Ele explica que o acordo entre os países do Mercosul não prevê o uso do dólar, apenas moedas locais, nas transações comerciais. Este acordo, no entanto, não estipula crédito, como acontece no pré-entendimento entre Argentina e China.
Ouvidos pela BBC Brasil, Aldo Abram e o também analista econômico José Luis Espert disseram temer que a Argentina contabilize este crédito da China como reserva do Banco Central.
"Como o governo argentino maquiou estatísticas, não podemos descartar que o Banco Central contabilize este dinheiro como reserva, para mostrar maior fortaleza monetária, o que não estaria correto", disse Espert.
Na opinião de Abram, a China pode estar vendo a Argentina, neste momento, como um país que pode chegar a ter dificuldades de pagamentos.
"O clima político, com a disputa entre governo e o setor rural e a antecipação das eleições legislativas (de outubro para junho) estão pressionando a alta do dólar", disse.
Segundo ele, na prática, os importadores argentinos de produtos chineses vão continuar levando pesos ao Banco Central local para que este realize o pagamento correspondente aos exportadores na China.
Mas esta operação, que o BC faz atualmente em dólares, poderá ser feita, a partir deste acordo, em iuanes emprestados. Com isso, a autoridade monetária argentina não precisará tocar nas suas reservas em dólares.
A previsão é de que o acordo tenha três anos de validade, podendo ser prorrogado.
Estabilidade
Ao anunciar e assinar o pré-acordo, segundo a edição online do jornal Clarin, Zhou Xiaochuan, o chefe do Banco Popular da China, disse que ainda faltam detalhes para o documento final.
"O acordo servirá para estabilizar o sistema monetário regional, protegê-lo contra riscos financeiros e limitar a extensão da crise", disse Zhou Xiaochuan, segundo a agência estatal chinesa Xinhua.
Para assessores do Banco Central argentino, este acordo "contribuirá para reforçar a confiança e a percepção de solidez que hoje a Argentina tem no exterior".
Atualmente, o Banco Central argentino conta com reservas recordes de cerca de US$ 47 bilhões. Porém, mantém dívidas com o Clube de Paris e com aqueles que compraram papéis da dívida do país, mas não aceitaram a oferta feita pelo governo argentino.