O governo argentino anunciou ontem que aceitou trocar 0 US$ 29,48 bilhões de sua dívida, após analisar detalladamente durante o fim de semana cada uma das propostas feitas por investidores nacionais e estrangeiros. As ofertas para a troca de títulos somaram US$ 33,3 bilhões. Apesar de a Argentina ter pago taxas de até 15,5%, o custo médio ficará em 10,27%.
"Somente até o final de 2002, aliviamos as necessidades de financiamiento cm US$ 7,2 bilhões", disse o ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo.
O vice-ministro da Economia, Daniel Marx, informou porém que as cifra ainda não são precisas, pois os investidores estrangeiros trocaram algo entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões -o resto foi trocado por investidores locais. A Argentina vai resgatar 58 bônus – entre eles bônus Brady, como o FRB e o Par, bônus do Tesoura (Bontes) e papéis globais com diferentes vencimentos -e emitirá outros cinco no lugar: Bono Pagaré com vencimento em 2006 por US$ 2,030 bilhões; Global 2008, em pesos, por US$ 931 bilhões; Global 2008, em dólares por US$ 11,456 bilhões; e Global 2031 por US$ 8,521 bilhões.
Surpresa
O volume da oferta surpreendeu govemo e analistas, que esperavam que o "swap" (troca) envolverla US$ 25 bilhões. Cavallo, contudo, já savia avisado que nem todas as ofertas seriam aceitas. Também contrariando as expectativas, mais de dois terços dos US$ 33,3 bilhões dizem respeito à categorías não competitivas, o que significa que esses investidores aceitarão por seus bônus o preso de resgate que for fixado pelo governo. Assim, a operagão envolverá um total superior a US$ 21 bilhões, quando a estimativa da equipe de Cavallo era de US$ 20 bilhões. "Pode-se dizer que a operação foi totalmente bem-sucedida, do ponto de vista do interesse que despertou naqueles que detêm títulos da dívida pública. E um recorde mundial, nunca houve unia troca tão grande", disse Cavallo.
No entanto, muitos, analistas não estão convencidos do êxito do "swap". "Quando são pagas taxas superiores a 15%, não se pode falar em êxito", disse laconicamente José Luis Espert, da consultoria Espert & Asociados. Um outro motivo para que os analistas não estejam convencidos do sucesso da operação é o baixo interesse demostrado pelos investidores internacionais. Com efeito, apesar de Cavallo e o vice-ministro da Economia Daniel Marx, terem viajado, na semana passada, aos princípais centros financeiros do mundo para apresentar o "swap", analistas calculam que a participação estrangeira na operação seria modesta, já que os presos mínimós fixados para os novos bônus envolvem uma taxa pouco atrativa, se comparada à dos títulos atuais.
Irregularidades
Já os investidores institucionais locais, liderados pelos bancos e pelos fundos de pensão, aceitaram em, massa a oferta do govemo. Mas o troca por pouco náo terminou em es- cándalo. Dois dos bancos interna- cionais escolhidos para organizar a troca por pouco não terminou em escândalo. Dois dos bancos internacionais escolhidos para organizar a operação -o Deutsche Bank e o ABN Amro – foram afastados do negócio no último momento, en quanto o banco local Banco Galicia foi impedido de aceitar bônus de investidores norte-americano. As medidas foram tomadas porque essas instituições divulgaram informações sobre o swap em seus conmunicados distribuídos a ínvestidores.
Dopois de analisar a situação, os advogados do Ministério da Economia sugeriram aos bancos que se retirassem da operação, antes que a Securities Exchange Comission (SEC, órgão, regulador do mercados de capitais dos EUA) denunciasse irregularidade.
Alívio
O governo espera que a troca de títulos, ao adiar para depois de 2005 os pesados pagamentos da dívida pública que a Argentina tem pela frente, traga algum alívio ao país, que enfrenta séria crise econômica e está cm recessão há quase três anos. A gravidade da situaçao levou os mercados a pensar que a Argentina seria forçada a interromper seus pagamentos. Com um elevado déficit fiscal – segundo estimativas extra-oficiais, em dezembro de 2001 o déficit chegaria a US$ 16 bilhões – e com dívida pública consolidada (governo central, provincias e municípios) cerca de US$ 161 bilhões, ou 57% do produto interno bruto (PIB), a troca é, na opinião de analistas, a última oportunidade que o govemo argentino tem para convencer os investidores de que é capaz de honrar seus comprornissos.
Risco-país
Mas o mercado ainda está cauteloso: o risco-país ficou acirna de mil pontos básicos no fechamento dos mercados na sexta, de acord índice Embi+, do J.P.Morgan. Espera-se que com este alívio estimado em cerca de US$ 17 bilhões nos próximos cinco años, o país comece a se recuperar.